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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Vou morar em outro planeta...


O jornalista Leonardo Sakamoto publicou em seu Blog um texto, ou seria melhor dizer, um desabafo, discutindo sobre os portadores do vírus HIV com relação à vida profissional. Preconceitos? Nem... Discriminação? Imagina...

Leia o texto na íntegra:

O pior sintoma do HIV ainda é o preconceito
12/08/2012 - 9:50

Brasília - Há, em vigor, uma portaria do Ministério do Trabalho e Emprego que proíbe empresas de obrigarem seus empregados a fazerem exames para detecção de HIV na admissão, mudança de função, avaliação periódica, retorno, demissão ou qualquer outro procedimento ligado à relação de emprego. A portaria, de 2010, reconfirmou o que decisões judiciais já apontavam, reafirmando lei de 1995 que já proibia discriminação para acesso ao emprego.

Apesar disso, tenho recebido notícias de instituições públicas e privadas que evitam a contratação de pessoas com HIV. Para tanto, utilizam outras justificativas supostamente sobre o desempenho técnico do candidato, que não se sustentam diante de uma análise criteriosa do processo de avaliação.
Quanto trato desse assunto, alguns dos meus leitores lindos contestam com sua educação peculiar. Por exemplo, um deles me explicou carinhosamente sua discordância: “Seu japonês idiota, abre o olho! Se a empresa é minha, eu escolho quem trabalha e quem não trabalha nela. É minha, minha! E não quero meus funcionários com medo de pegarem algo de alguém doente”.
Como explico que o doente, na verdade, é ele? E que, não, ele não pode fazer o que quiser na sua relação com seus empregados, que há regras e leis que regem a relação capital/trabalho e garantem dignidade aos trabalhadores. Ah, esse povo saudoso da escravidão…
É idiota e tosco ostentar qualquer forma de segregação a trabalhadores que possuem uma doença que não é contagiosa ao contato social. Melhor do que isso só aquelas justificativas esfarrapadas dadas por empregadores que barraram uma promoção ou a contratação de alguém porque descobrem que a pessoa vive com HIV. Quando são obrigados a se justificar perante à lei ou à sociedade, dizem que foram caluniados, que ninguém entendeu nada, que o empregado era um preguiçoso, um incompetente, um canalha. “Isso é um absurdo! Eu não tenho preconceito, até tenho um amigo com Aids”.
Perceberam que as desculpas-padrão para fugir da pecha de preconceituoso têm o mesmo DNA? Tenho amigos gays, negros, índios, nordestinos…

Para a Organização Internacional do Trabalho, o local de serviço pode ajudar a conter a disseminação e mitigar o impacto do HIV/Aids, “por meio da promoção dos direitos humanos, disseminação de informações, desenvolvimento de programas de capacitação e educação, adoção de medidas preventivas práticas, oferta de assistência, apoio e tratamento, e garantia de previdência social”. Ou seja, deveria ser um local de diálogo, de acolhida, de apoio. Ou pode ser vetor de disseminação do medo, ajudando a manter o véu de ignorância que ainda cobre o assunto.
Sei que é batido, mas nunca demais lembrar: o pior sintoma do HIV ainda é o preconceito.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Para ler ouvindo Diversão (Titãs)


Sobre o HIV/Aids, as campanhas de prevenção do governo estão mais voltadas ao uso do preservativo. Entretanto, desde 2010 o ministério dispõe de uma outra alternativa para quem fez sexo sem proteção. Trata-se de um conjunto de medicamentos que reduz a chance de se contrair o vírus HIV. Que fique bem claro: não há a garantia de que a pessoa não seja infectada.

No período entre janeiro de 2011 até junho deste ano, foram distribuídos uma média de 3,4 “coquetéis do dia seguinte” (como vem sendo chamado), para pessoas que fizeram sexo sem proteção e podem ter sido expostos ao vírus da aids. Só em São Paulo, a média é de 1,6 coquetel por dia, sendo o Estado onde mais se recorre ao uso do kit (48,6% do total).

O tratamento se estende por 28 dias, mas só faz efeito se tiver início no máximo em 72 horas após a relação. O ideal é que os primeiros medicamentos sejam ministrados duas horas depois. Conforme as características do paciente, até três medicamentos podem compor o coquetel, em alguns casos são usados apenas dois. Os comprimidos são fabricados pelo governo, portanto não são vendidos em farmácias comuns, e devem ser retirados em unidades de saúde.
O receio de que esta medida substitua o preservativo sempre esteve presente, mas não foi isso o que o ministério constatou após iniciar a distribuição dos kits. Segundo Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, "não registramos casos de gente que tenha buscado o coquetel duas, três vezes. Sempre ressaltamos que os medicamentos são excepcionais, não garantem que o paciente não contraia o vírus e não dispensa o uso da camisinha. Se alguém procurar os medicamentos várias vezes, será uma oportunidade de conscientizá-lo sobre a importância de se proteger de outra forma, com camisinha." 

Por outro lado, uma jovem atendida no Projeto Anima Jovem, relata que, em uma balada foi surpreendida por um colega que vendia um comprimido “anti-hiv”, em conjunto com a “balinha” (termo utilizado para designar o Ecstasy). Associado com a qualidade de vida que os portadores conquistaram ao longo da história da epidemia, o coquetel do dia seguinte, não só oferece uma oportunidade de lucro para os traficantes, mas cria a falsa ideia de que a aids é coisa do passado, dispensando o uso da camisinha. Ou talvez, o fato de se vender uma droga que promove um estado de euforia e aumenta o interesse sexual em conjunto com um comprimido que lhe autoriza a transar sem grandes preocupações (não se esqueça que já temos o fácil acesso à pílula do dia seguinte, para evitar a gravidez), seja apenas mera coincidência. Nesse sentido, a informação é essencial. Mas, daí fica a questão: Você já sabia de tudo isso, certo?
Desde 1997 o coquetel é distribuído a profissionais de saúde que atendem eventualmente portadores do HIV, depois passou a ser recomendado a vítimas de violência sexual. Um terceiro grupo que passou a ser atendido foram os casais sorodiscordantes (quando um dos parceiro é soropositivo) que desejam ter filhos e, agora também entra na jogada aqueles que tiveram uma “exposição sexual ocasional”, como são classificados pelo ministério. Para receber o coquetel, o paciente deve procurar um Serviço de Atendimento Especializado (SAE) ou a unidades que atendem situações de urgência. Antes de recomendar o tratamento, o médico avalia o risco a que o paciente se submeteu. Se ele praticou sexo anal, tem risco maior de contrair o vírus. Sexo oral é menos arriscado que o vaginal.
Fonte: Estadão.com     

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Por que assinar?


Estas fotos foram tiradas quando passava em frente ao Hospital Emílio Ribas no dia 25/04/2012
A mobilização agora é contra o fechamento dos leitos no CRT-DST/Aids em São Paulo, segundo a diretora de marketing da Anima, Tica. O Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids trata-se de uma instituição com quase 30 anos voltados à atenção das pessoas que vivem com HIV/Aids promovendo um atendimento diferenciado, conta ainda com a capacitação de profissionais e como sede do Programa Estadual, coordena as ações direcionadas a prevenção e a distribuição de insumos de todo o Estado de São Paulo.

Já havíamos acompanhado o fechamento da Casa da Aids, onde seus 3200 pacientes foram transferidos para o Hospital Emílio Ribas. A coordenadora da Anima, Renata Brandoli, em conjunto com alguns jovens atendidos no projeto Anima Jovem participaram diretamente das manifestações contra seu fechamento.

A Coordenadoria do Controle de Doenças (CCD) da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, confirma que existe a proposta para a transferência dos leitos do CRT também para o Hospital Emílio Ribas. Seu argumento é que o número reduzido de leitos não é resolutivo para casos de maior complexidade, ou seja, para os casos em que o paciente necessita de novas tecnologias como tomografia ou ressonância magnética, por exemplo. Segundo Alexandre Gonçalves, do Programa Estadual, o CRT não tem interesse em mover este leitos, “conseguimos prestar assistência a maioria dos casos que chegam até a instituição”, comenta.

Acompanhamos também que o tema saúde tem sido discutido entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, apontada pelo jornal O Estado de São Paulo como “uma das áreas mais problemáticas para a população”. Nesta linha temos um Emílio Ribas com falta de fraldas e medicamentos, como omeprazol, lasix e diazepam, faltam equipamentos e profissionais em diversas áreas, seu espaço físico está degradado, oferecendo péssimas condições de trabalho e atendimento. “O convênio com a Fundação Faculdade de Medicina só veio agravar esse quadro. Quem paga o preço são os trabalhadores e pacientes. Os trabalhadores, antes concursados e com 40% de insalubridade e jornada de trinta horas vão perdendo espaço para a Fundação - cujos interesses estão longe daqueles representados por saúde universal e gratuita - que contrata com jornada quarenta horas semanais e pagamento de 10% de insalubridade”, escreve o site Fórum Popular de Saúde.

Somados a isso, muitas pessoas que vivem com o HIV/Aids enfrentam graves dificuldades com as doenças oportunistas e consequências relacionadas aos efeitos colaterais dos antirretrovirais que, em muitos casos evoluem para diabetes, hipertensão, dislipidemia, síndrome metabólica... Não é preciso muita explicação para saber o resultado de um atendimento mal feito ou após a espera de 2 ou 3 dias para ser realizado.

A saúde não é tema somente daqueles que elegemos para supostamente nos representar, estamos todos no mesmo barco. E pelo que parece, afundando! Somos parte da luta por direitos, pela garantia da equidade, universalidade e integralidade (princípios do SUS). Para fechar, segue o imperativo, cantado pela Nação Zumbi: “Posso sair daqui para me organizar, posso sair daqui para desorganizar” (Da lama ao caos - Chico Science).