Pesquisar este blog

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Eu fui; Ele vai; Nós vamos.



“Você foi na Parada Gay?”

Há algum tempo não muito longínquo, quando esta pergunta era feita, comportava um certo tom de escárnio para àquele em que era endereçada. Nesta época a Parada Gay era desfilada por corpos submissos ao prazer e à devassidão. Ou o sujeito era um doente, ou um grande pecador. Indo ou não na Parada a resposta à pergunta era sempre a mesma: “Eu não!”

Para aqueles que se atreviam a estar na Avenida Paulista justo na hora em que o evento ocorria ou ainda, para aqueles que na imensidão de seus mais íntimos pensamentos, cogitavam fazer uma pequena aparição, a resposta era acrescida por um: “Só ver não tem problema...” Eram os famosos “afins”. Afins de  quê?

Quando em 1952 o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) trazia em seus compêndios a homossexualidade como transtorno, essa premissa não se sustentou por muito tempo. Sem bases científicas concretas que afirmassem o homossexualismo (como era tratado na época) como um desvio do sujeito com relação à normalidade (hetero, por sinal), tal conceito acabou sendo erradicado das últimas versões do Manual. “Tratar” a homossexualidade com base em correções neuronais não fez muito sucesso. A salvação mudava de endereço.

Aliás, salvar o sujeito declarado homossexual também não foi algo muito bem vindo em algumas classes. Ao contrário, segundo as normas religiosas—veja, usamos a palavra religiosa e não divina—o promíscuo sujeito homossexual queimaria no fogo do inferno, ao desafiar as leis que regem a ordem da família. E por família, temos: um homem + uma mulher = filhos. Toda configuração contrária a isso, não constitui uma unidade familiar. De novo, caímos naquilo que é considerado “normal” (com todas as aspas possíveis).

Bom, mas a Parada Gay em sua 16ª edição, traz alguma mudança? Por um lado sim, por outro, não! Mesmo tendo levado milhões de pessoas às ruas, o movimento gay ainda não é bem visto por alguns segmentos sociais. Talvez, nunca seja. Não à toa seu tema foi, "Homofobia tem cura: educação e criminalização! – Preconceito e exclusão, fora de cogitação!"

Recentemente, em alguns lugares do planeta é possível constituir família entre pessoas do mesmo sexo, algumas mídias vem abrindo oportunidades para o afeto homossexual, apenas como exemplo, vide a revelação de Alan Scott, primeiro Lanterna Verde (DC Comics), personalidades que expressam ou influenciam a opinião de muitos têm se declarado favorável ao movimento gay. Não podemos negar que estes são pequenos avanços de toda uma luta marcada por preconceito, discriminação e exclusão.
 
Claro que há muito o que se fazer. Ser gay deixou de ser doença ou sinal de promiscuidade para fazer parte de um movimento de luta por ideais, por reivindicações sociais e políticas, passou a comportar identidade, jeito de ser, de amar. Todo esse empenho acabou permitindo que a pergunta do início deste texto pudesse ser feita de uma outra forma: “Você vai na Parada Gay?”


Nenhum comentário:

Postar um comentário