O músico Raphael Lopes, de 24 anos, chamou a polícia durante um show de stand-up ao ser comparado a um macaco pelo humorista Felipe Hamachi. O episódio ocorreu durante a apresentação do espetáculo de humor chamado de “Proibidão”, que reunia vários comediantes, entre eles, Danilo Gentili e Fábio Rabin na casa Kitsch Club, Zona Sul de São Paulo.
Lopes, que é negro, estava tocando vinhetas no teclado durante a apresentação do humorista Felipe Hamachi e entendeu que este o estava chamando de macaco. “As palavras que eu disse foram: ‘dizem que transar com macaco pega AIDS. Então eu tenho AIDS, né?’. E aí eu virei para ele. Isso ao pé da letra não quer dizer nada. Nunca chamei ele de macaco”, afirmou Hamachi.
Para assistir ao espetáculo o público teve que assinar um termo em que declarava saber dos tipos de piadas que poderiam ser feitas na apresentação. Dojival Vieira Santos, advogado do músico, vai solicitar que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância investigue possíveis crimes cometidos no show. Segundo ele, outras piadas pesadas não só contra negros, mas também contra pessoas com deficiência foram ditas no espetáculo.
Segundo o coordenador de políticas públicas para a população negra e indígena da secretaria, Antonio Carlos Arruda, o documento que o público assinou não tem validade jurídica, pois a questão tem a ver com a dignidade da pessoa humana, que é direito indisponível segundo a Constituição. “Os artistas precisam parar com essa história de que em nome da liberdade de expressão pode-se ofender as pessoas, pode-se atingir a dignidade de um povo inteiro. Se eles não têm competência para fazer humor que não seja em cima do escárnio de uma população inteira, eles devem mudar de profissão”, disse Arruda. O humorista se defende dizendo não temer uma punição. “Não temo porque não cometi nenhum crime, estou com a consciência tranquila. Apesar de algumas pessoas terem opinião contrária, não passou de uma piada, isso não faz parte da realidade do que eu penso. Eu não discriminei a pessoa de forma humilhante como poderia acontecer no caso de uma empresa que não dá emprego para uma pessoa por ela ser negra. Falar isso para uma pessoa que você nunca viu na vida, na rua, é racismo. Em cima do palco não é”, disse. Um dos produtores e sócio do clube, Luiz França, disse que o espetáculo “Proibidão” não sofrerá alterações, defendendo que assim como acontece no teatro em que se faz uma interpretação, o espetáculo não é um “show de preconceitos”, mas sim um evento onde os comediantes tem liberdade para falar palavrões pesados.
Questão para reflexão: O que se entende por politicamente incorreto e liberdade de expressão?
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