Pesquisar este blog

segunda-feira, 16 de julho de 2012

HIV e Direitos

Leis que criminalizam, discriminam e punem as populações com maior risco de contágio do HIV, como homossexuais, transexuais, prostitutas e usuários de drogas injetáveis, prejudicam o tratamento e atrapalham a luta contra a Aids.

É o que afirma um relatório divulgado na tarde desta segunda-feira (09) em Nova York, elaborado pela Comissão Global sobre HIV e Lei, ligado à ONU.

A comissão, que é apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e formada por especialistas em políticas públicas, direitos humanos, legislação e HIV/Aids.

O texto detalha as leis ligadas ao HIV e à Aids em governos de 140 países. E mostra que, em mais de 60 deles, é crime expor outra pessoa ao HIV ou transmitir o vírus.

 
NO BRASIL

Não há lei específica que criminalize a transmissão do HIV no Brasil. No entanto, há registro de condenações por perigo de contágio venéreo, perigo para a vida ou a saúde, lesão corporal e até tentativa de homicídio.

Segundo levantamento da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), já houve 11 sentenças condenatórias por exposição ou transmissão sexual de HIV nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

A entidade afirma que, nos anos 80 e 90, o indiciamento mais frequente ligado a casos de transmissão de Aids no Brasil era por homicídio doloso (com intenção).

Mas, segundo Marclei Guimarães, ex-assessor de projetos da Abia e um dos relatores do levantamento da entidade, há uma tendência no Brasil de julgar o ato como lesão ou crime de perigo.
Guimarães afirma que a legislação atual permite variadas interpretações.

ONGs e movimentos sociais ligados ao tema, no entanto, consideram que transmitir o vírus não pode ser considerado tentativa de homicídio. Isso porque os tratamentos existentes hoje fazem com que o HIV não seja uma sentença de morte.

Em 2008, a própria ONU recomendou a revogação de leis criminais específicas para o HIV que obriguem a revelação do status sorológico e que sejam contraproducentes para a prevenção do HIV e seu tratamento.
 
HOMOSSEXUAIS

Outro entrave para conter a pandemia da Aids, de acordo com o novo relatório, é a criminalização de atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Isso ocorre em 78 países do mundo.

Essas leis e práticas desencorajam as pessoas a divulgarem a sua condição e a procurarem serviços de saúde.

A comissão chegou a essas conclusões por meio da revisão de 680 textos de mais de mil autores de 140 países. Também foram ouvidas cerca de 700 pessoas afetadas por leis ligadas ao HIV. 

Pacientes não têm acesso a antirretrovirais

10 de julho de 2012 | 3h 04
 
LISANDRA PARAGUASSU / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
 
Apesar de um crescimento de 22 vezes no acesso às drogas antirretrovirais entre 2001 e 2010, metade dos adultos e três quartos das crianças que precisam ainda não têm os remédios necessários.

No centro dessa dificuldade de acesso, diz o relatório da Comissão Global sobre Aids e Leis das Nações Unidas, está a legislação internacional sobre patentes e a pressão dos países ricos sobre os pobres para impedir a produção e a aquisição de genéricos. Mudar o Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Trips, na sigla em inglês), diz o relatório, é essencial para combater a epidemia global de aids.

A flexibilização da Trips, feita há dez anos, abriu brechas para a quebra de patentes ao dizer que a lei deveria ser interpretada "à luz do objetivo de promover o acesso a medicamentos para todos". Diversos países, entre eles Brasil, Índia e África do Sul, usaram esse caminho para diminuir o custo de seus programas de distribuição de retrovirais.

Em 2007, ao aprovar a licença compulsória do Efavirenz, o governo brasileiro diminui em 71,8% o custo do remédio. No entanto, para os países mais pobres, esse caminho é pouco viável. Sem condições de produzirem suas próprias drogas, eles não têm condições de melhorar o acesso ao tratamento.

"Dez anos depois, alguns governos e companhias farmacêuticas estão ativamente minando os direitos e tentativas dos países usarem a flexibilização da Trips", diz o relatório.

Propostas. 

A comissão propõe que a Secretaria-Geral das Nações Unidas estude uma nova lei de patentes para os produtos farmacêuticos que leve em conta a necessidade de saúde para todos. Também exige que os países desenvolvidos parem com a pressão sobre os mais pobres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário