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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Meu reino por um marshmallow


No início dos anos 70, o psicólogo Walter Mischel realizava um experimento na Universidade de Stanford que acabou se tornando um clássico. O teste era o seguinte: uma criança de 4 a 6 anos de idade era colocada em uma sala com um marshmallow numa mesa. O pesquisador explicava à criança que ele teria de sair da sala deixando-a sozinha. Se, quando ele voltasse, a criança tivesse resistido à tentação de comer o doce, ela ganharia mais um marshmallow, caso o comesse em sua ausência, não ganharia mais nada.

Acompanhando o progresso destas crianças, o pesquisador notou que havia uma correlação entre o tempo em que elas conseguiram esperar antes de comer o doce e vários indicadores de bem-estar. Anos depois, vários dos atributos relacionados ao seu sucesso e popularidade podiam ser previstos pelo tempo a que resistiram ao marshmallow. Peso corporal, uso de drogas e até o desempenho no vestibular estavam significativamente associados ao autocontrole demonstrado diante dos doces.

A fórmula de sacrificar um ganho presente pensando em uma recompensa futura é algo que muitos de nós acabamos teorizando, mas em poucos momentos é posto em prática. Seu contrário é slogan de muitas marcas, abrangendo também estilos de vida, causas do desejo e critério econômico: JUST DO IT!

Podemos pensar em quantos de nós tem uma poupança respeitável... Poupar agora pode ser uma boa oportunidade para se pensar num processo educacional para nossos filhos, ou para nós mesmos. Aumentando essa proporção do indivíduo para o social, “temos não apenas um dos piores sistemas educacionais do planeta como também uma taxa de poupança historicamente baixa (de 18% do PIB em 2010, contra 52% na China, 32% na índia, 34% na Indonésia, 32% na Coreia do Sul, 24% no México e uma média de 30% nos países de renda média, como o Brasil, segundo dados do Banco Mundial)”, afirma o economista Gustavo Ioschpe.

O autocontrole envolve, especialmente neste caso, fechar a boca! O perfil nutricional do Brasil passou da subnutrição para o sobrepeso. Um de cada seis meninos de 5 a 9 anos de idade é obeso, segundo o Ministério da Saúde, 49% dos brasileiros tem sobrepeso.

Uma pergunta pode/deve ser feita. Podemos tomar a questão de pegar ou não um doce como imperativo para todo um futuro do sujeito, ainda mais quando se fala em desejos? Entretanto, é interessante para se fazer paralelos. No campo da prevenção, por exemplo, ainda mais agora com as últimas notícias sobre este tema (Truvada, OraQuick e leis ligadas ao HIV), pode-se pensar no tal autocontrole para se comer um doce (o duplo sentido é proposital). No mundo todo, o uso de preservativo estimado é de 6 a 9 bilhões de preservativos por ano. Mas, para proteger completamente contra as infecções sexualmente transmissíveis, estima-se que o uso deveria ser de 24 bilhões.

Independente se as causas recaiam no enfraquecimento da família, no mercado de consumo hipercapitalista, em transtornos ou disposições genéticas e, especialmente, sem fazer disso um dogma, percebe-se que o controle em adiar um ganho presente reflete também em nossos comportamentos do dia-a-dia e em como estamos dispostos a lidar com as (in)certezas do futuro. Pode ser que o pesquisador, político-partidário, esteja mentindo e não volte mais, nesse caso vale mais um pássaro na mão do que dois voando... É, temos algo para se pensar.

Para saber mais:

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