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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Vítimas do modelo


Qualquer referência à música Another Brick in the Wall não terá sido mera coincidência

A diretora de uma escola infantil da Vila Mariana, foi flagrada agredindo os alunos que tinham, no máximo, 4 anos de idade. Pasmos com a notícia?! Peraê... O “flagra” não foi um mero acaso. Houve uma denúncia, um movimento de instalação do equipamento de gravação e as imagens captadas só vieram a revelar algo que muitos já sabiam, outros desconfiavam, e outros, nem imaginavam.
Há tanta coisa para se falar sobre este assunto que dá medo começar estas linhas

Em muitas escolas brasileiras já estão em funcionamento várias câmeras nas salas de aula e, também em algumas, nos banheiros. Após o incidente na Vila Mariana, essa escolha se faz certeira, afinal foi uma câmera quem gravou as imagens. A intenção é a mesma: manter a ordem nas escolas. Poucos pais são contra esta medida.
 
Para Esther Carvalho, diretora do Colégio Rio Branco, o monitoramento faz parte de um olhar mais amplo, afinal, “todo lugar que nós vamos temos esse tipo de recurso. A questão é se eu tenho uma atitude adequada, ele não me fere, não agride”, afirma. É o velho ditado “quem não deve, não teme.” O Colégio Rio Branco foi, recentemente, alvo de protesto dos alunos contra as câmeras nas salas de aula. 107 estudantes foram punidos. O que a escola finge não ver é que - seguindo a linha dos ditados - “o feitiço pode virar contra o feiticeiro.” Se a escola opta pela vigilância das câmeras não seria porque seu modelo educacional falhou?
Na reportagem, exibida pelo SPTV, no dia 08 de dezembro, o pai de uma criança desabafa que o filho passa mais tempo na escola do que com a família. Tamanha euforia pela vigilância só reforça algo que já sabemos, a falta de controle. Tanto dos pais quanto da própria escola, que, vítima do modelo que adotou, não é capaz de sanar as questões educacionais. Só resta, portanto, vigiar e punir.
Sentiram falta de algo? Não? Vamos ajudar: e a Educação, onde fica? Como é vista? Em qual proposta pedagógica as câmeras de vigilância se enquadram? Para a diretora psicopedagógica da Anima, Renata G. Brandoli, que trabalha numa linha construtivista, poucas famílias e/ou cuidadores investem em uma escola que apresenta uma proposta diferenciada. Preferem o modelo tradicional que, muitas vezes, opta pelo castigo. Algo muito similar ao que acontece nos lares. Com pouco tempo para discutir com os filhos, a punição é a melhor alternativa, afinal, tempo é dinheiro! Logo...
O que fica é a responsabilidade pela estadia da criança/jovem e de seu desempenho. Em outras palavras, a Educação nestes modelos, não passa do disciplinamento dos corpos. E para isso, basta o exemplo dado pela diretora da escola na Vila Mariana. Uma vez preocupados com a ordem (cabelo penteado, roupas limpas, estômago cheio, boas notas...), o olhar para o conteúdo que a criança traz é irrelevante. “Uma imagem vale mais do que mil palavras.”
 
A escola já optou por seu modelo desde o século XIX, com a adoção do panoptismo. A vigilância já havia sido instalada antes das câmeras. A construção da cidadania, premissa educacional, é feita a partir de possíveis erros, através da troca educador X educando. O medo de errar, vigiado constantemente, só vem a retardar este processo.
O tapa no rosto, físico, foi sentido apenas pela criança que não quis comer, porém, aqueles que ousaram sair do papel de vítimas dos supostos modelos que eles mesmos escolheram, não puderam de deixar de sentir, desta vez, o tapa na cara.

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