“Você foi na Parada Gay?”
Há algum tempo não muito longínquo, quando esta pergunta era feita, comportava um certo tom de escárnio para àquele em que era endereçada. Nesta época a Parada Gay era desfilada por corpos submissos ao prazer e à devassidão. Ou o sujeito era um doente, ou um grande pecador. Indo ou não na Parada a resposta à pergunta era sempre a mesma: “Eu não!”
Para aqueles que se atreviam a estar na Avenida Paulista justo na hora em que o evento ocorria ou ainda, para aqueles que na imensidão de seus mais íntimos pensamentos, cogitavam fazer uma pequena aparição, a resposta era acrescida por um: “Só ver não tem problema...” Eram os famosos “afins”. Afins de quê?
Quando em 1952 o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) trazia em seus compêndios a homossexualidade como transtorno, essa premissa não se sustentou por muito tempo. Sem bases científicas concretas que afirmassem o homossexualismo (como era tratado na época) como um desvio do sujeito com relação à normalidade (hetero, por sinal), tal conceito acabou sendo erradicado das últimas versões do Manual. “Tratar” a homossexualidade com base em correções neuronais não fez muito sucesso. A salvação mudava de endereço.
Aliás, salvar o sujeito declarado homossexual também não foi algo muito bem vindo em algumas classes. Ao contrário, segundo as normas religiosas—veja, usamos a palavra religiosa e não divina—o promíscuo sujeito homossexual queimaria no fogo do inferno, ao desafiar as leis que regem a ordem da família. E por família, temos: um homem + uma mulher = filhos. Toda configuração contrária a isso, não constitui uma unidade familiar. De novo, caímos naquilo que é considerado “normal” (com todas as aspas possíveis).
Bom, mas a Parada Gay em sua 16ª edição, traz alguma mudança? Por um lado sim, por outro, não! Mesmo tendo levado milhões de pessoas às ruas, o movimento gay ainda não é bem visto por alguns segmentos sociais. Talvez, nunca seja. Não à toa seu tema foi, "Homofobia tem cura: educação e criminalização! – Preconceito e exclusão, fora de cogitação!"
Recentemente, em alguns lugares do planeta é possível constituir família entre pessoas do mesmo sexo, algumas mídias vem abrindo oportunidades para o afeto homossexual, apenas como exemplo, vide a revelação de Alan Scott, primeiro Lanterna Verde (DC Comics), personalidades que expressam ou influenciam a opinião de muitos têm se declarado favorável ao movimento gay. Não podemos negar que estes são pequenos avanços de toda uma luta marcada por preconceito, discriminação e exclusão.
Claro que há muito o que se fazer. Ser gay deixou de ser doença ou sinal de promiscuidade para fazer parte de um movimento de luta por ideais, por reivindicações sociais e políticas, passou a comportar identidade, jeito de ser, de amar. Todo esse empenho acabou permitindo que a pergunta do início deste texto pudesse ser feita de uma outra forma: “Você vai na Parada Gay?”
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