O vídeo divulgado na internet gerou muita polêmica, mas quase ninguém se perguntou o que houve para a situação chegar a esse ponto. Confira a opinião dos especialistas
Elisa Meirelles
Uma cena de bullying gravada
em vídeo se espalhou rapidamente pela internet nos últimos dias e
ganhou destaque na imprensa mundial. As imagens, registradas em uma
escola australiana, mostram o momento em que Casey Heynes - aluno de 15
anos constantemente agredido pelos colegas - se rebela e parte para cima
de um de seus agressores. Com o sucesso na rede, Heynes passou de
vítima a herói. Alguns dias depois, os dois garotos eram entrevistados
em programas de televisão, apresentando sua versão dos fatos (assista aos vídeos ao lado).
No
calor da repercussão e na maneira superficial como o tema foi tratado
pelas emissoras, perguntas fundamentais ficaram sem resposta. Qual o papel da escola na história? O que levou o garoto à reação extrema? Há, de fato, algum herói?
Para responder a essas e outras dúvidas, NOVA ESCOLA ouviu as
pesquisadoras Adriana Ramos e Luciene Tognetta, do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As considerações das
especialistas têm como objetivo mostrar a professores, gestores e pais
quais ensinamentos podem ser tirados do fato e como usá-lo no combate -
constante - ao bullying.
O papel da escola
Pelos
comentários publicados na internet sobre o vídeo e pela própria maneira
como as reportagens foram editadas, percebe-se que quase ninguém
questionou o papel de professores e gestores da escola australiana. As
especialistas da Unicamp explicam que, por ser um problema que ocorre
entre os alunos, o bullying pode mesmo demorar para ser detectado. "Em
muitos casos, quando pais e professores ficam sabendo, a criança já
sofre há pelo menos dois anos", comenta Adriana Ramos.
Essa
dificuldade, no entanto, não deve ser usada como desculpa para a escola
se eximir de responsabilidade. No caso australiano, há fortes indícios
de que professores e gestores foram omissos. "Não é possível que ninguém
viu o menino passar por tanta humilhação", comenta Luciene Tognetta.
Tudo leva a crer que a escola não tomou as atitudes necessárias nem
antes nem depois de o problema aparecer.
A reação da diretoria ao
saber da briga reforça essa suspeita. Ao saber do ocorrido, a escola
optou por suspender os dois alunos. Com isso, deixou de lado todas as
características do bullying e passou a lidar com o problema como se
fosse uma briga comum - sem dar importância para as razões que levaram
Heynes ao ato de violência. "Ao suspender os dois, a escola não
evidencia que, por trás da violência, está o bullying, nem dá a eles a
chance de refletir sobre a questão", diz Adriana.
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