No Brasil existem cerca de 32 mil crianças consideradas “inadotáveis”. Essas crianças estão fora da fila de adoção, assim como V., que tem dez anos, não conhece os pais, é portadora do HIV e mora num abrigo no Paraná. A menina conta que o presente que sempre quis ganhar no Dia das Crianças é uma casa e uma família: “Eu vou sentir saudades dos meus amigos daqui, mas queria que alguém me adotasse. Eu tenho uma madrinha que passa aqui de vez em quando e me leva para a casa dela para dormir. Eu gosto, mas queria uma mãe e um pai de verdade”.
A lei assegura a todas as crianças a possibilidade de serem adotadas até os 18 anos desde que tenham sido juridicamente desligadas dos pais biológicos, mas a burocracia impede esse direito.
Das 37 mil crianças que estão em abrigo no país, apenas 5 mil podem ser adotadas. Segundo Ariel de Castro Alves, presidente da Fundação Criança, esse número se deve à demora do processo de destituição (o processo que desliga legalmente a criança da família biológica). Apesar de existirem 26 mil famílias interessadas em adotar, existem algumas condições impostas pelas famílias que eliminam grande parte das 5 mil crianças que venceram a burocracia, que são: meninas brancas, com menos de três anos, sem irmãos, sem deficiências ou HIV. Só para se ter uma ideia, em Curitiba, das 73 crianças que constam no CNA (Cadastro Nacional de Adoção), 41 são brancas, 38 são meninos e só 3 tem menos de cinco anos.
Além destas adversidades, um outro dilema é daqueles que já atingiram a maioridade e que estão fora do processo. O jovem Marcos tem 18 anos, vive no abrigo desde os oito e também é soropositivo. “Antes de chegar aqui eu era maltratado em casa e, quando meus pais morreram, a família me trouxe pra cá. Quando eu era mais novo, tinha o sonho de conseguir ser adotado. Hoje não tenho mais esperanças de encontrar uma família, porque acho que será difícil me adaptar, a não ser que seja com uma família que eu já conheça. Meu objetivo agora é continuar meus estudos, fazer medicina e constituir minha família junto com meu irmão, que também mora aqui”, explica o jovem.
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